sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O bom da dor é o alívio.


Você não sabia o quão deliciosa era sua cama
Antes de trabalhar o dia inteiro
Não sabia o quão valioso era o silencio
Até morar ao lado de um puteiro
Não apreciava a perfeição da sua mãe
Até a ver numa cama fria
E antes da pior cólica intestinal da sua vida
Não sabia que na sua barriga havia tanta calmaria

Mas esses foram exemplos
De dor depois da felicidade
Coisa a que estamos acostumados,
Nós, que vivemos nas cidades
Outro costume que temos
É de sentir dor todo dia
O dia todo, todo tempo
Como uma eterna procissão ou romaria

Aquela eterna dorzinha de cabeça
O stress de ter que pegar trem
O trem que não funciona direito
O celular que não funciona também
O plano que saúde que não cobre isso e aquilo
E o seguro de vida que só vai servir pra quem não morreu
O despertador do vizinho que acorda você
O contrato que você leu mas não entendeu

O alivio da dor do parto
É o primeiro mamãe que o filho diz
O alivio de trabalhar o ano inteiro
É ver seu décimo terceiro
Fazer sua família feliz

Tenho que evitar pensar nessas coisas
Sobre como é bom o alivio da dor,
Que é ainda mais gostoso
Quanto maior e mais forte a dor for,
Porque Isso me lembra que essas dores todas da vida contemporânea
Juntas configuram a maior dor já sentida,
E me faz pensar o quão gostosa pode ser a morte,
O único e imediato alívio da dor da vida.

Um comentário: