segunda-feira, 25 de maio de 2009

Nessa prisão a céu entreaberto.


Hoje, lendo Ítalo Calvino, me pus a pensar sobre o que escrever. Ítalo, em seu livro, falava de comparações entre uma borboleta e um crime; formas de descrever um com características do outro.
Comecei, então, a pensar em elementos para comparar e descrever, como forma de exercício para deslanchar em uma escrita longa, com histórias de começo meio e fim; textos longos o suficiente para serem completos, saciar a leitura de alguém.
Foi aí que percebi que não há nada que me rodeia que eu queira realmente comparar, descrever. Tudo ao meu redor parece tão pobre que não merece ser transcrito.
Pra que transcrever uma televisão, um carro, uma árvore propositalmente plantada? Que magia haveria em comparar um com o outro? E que prazer haveria em descrever um fio elétrico com elementos de um fio de telefone.
Somos todos comprimidos, para viver em uma realidade que nós mesmos criamos, e que nos impomos a gostar. O Sol só se mostra quando nenhum edifício o esconde; só vemos o verde em projetos de arborização, e em musgos ou matos que crescem nos vãos das calçadas; e à noite há tanta iluminação aqui em baixo nem sequer podemos contemplar os pontinhos luminosos que atravessam o vácuo imenso só para nos alcançar.
Nossa diversão se resume em artificialidades, nossa, força só diz respeito a o que temos, e nosso medo é em relação a nós mesmos, e o que de mal podemos fazer uns aos outros.
Tem o que escrever quem vive o que sempre houve pra se viver, e não o que criaram e chamaram vida. Acho que a vida civilizada não é vida, porque não há prazer nenhum em descrevê-la.