sábado, 30 de julho de 2011

Samba de um Samba





Eu queria fazer uma música
Que começasse se anunciando
Assim, com uns clarins
Uns metais gritando
Como quem diz: cheguei de vez
Porque, não sou homem de vir chegando

Depois, viria o teclado
Segurando um acorde bem cheio
Mas, ao mesmo tempo, dedilhando notas agudas
Como quem pula num rio, e, pra chegar no meio
Mergulha, vem à tona, e volta a emergir
E acaba por atravessar o rio inteiro.

Daí, entrariam um pandeiro e um violão
Os dois amigos, inseparáveis num samba
Faziam a base pro clarinete entrar
Como a camareira prepara a cama;
E entraria o clarinete malandro
Como chega o tão esperado bamba.

O clarinete traz o tema da música
Como se traz uma dama pela mão
Calmo, e perene, e cheio de jeito
Cheio de cavalheirismo, e até de resignação.
Faz o tema tão levemente
Que até parece um samba-canção

Mas, depois, dispara numa carreira louca
Recortando toda a melodia,
Como quando corre um gordo desajeitado
E leva um tombo que, de ver, arrepia
Ao tentar se levantar, escorrega, e cai de novo
E o faz tão inocentemente que não há quem não ria

Repete partes distantes da música
Como que de forma aleatória.
E o faz tão linda e livremente,
Repete tanto, e de maneira tão notória
Que, para garantirem que um dia acaba a música
Lhe fazem assinar nota promissória.

Quando finalmente a música está para acabar
O clarinete se retira assim, à francesa.
O sono do pandeiro o faz ralentar
E o violão desfere enfim seus acordes de presteza
Pra que a música acabe, sim, lenta
Mas, nunca com ar de tristeza,
Como deve terminar a vida, lenta porém feliz.
Porque a morte, apesar de ser indesejado juiz,
Sempre foi nossa única certeza