sábado, 26 de março de 2011

O Chapeleiro

Certo dia, o Chapeleiro Maluco me perguntou: Quem é você? Eu, iludido com a ideia de que alguma das perguntas dele pudesse realmente ter uma resposta tão simples, respondi inocentemente: Ora, sou Pedro Luan Balle Silva. Claro que não, ele logo me respondeu, Pedro Luan  Balle Silva é quem é carinhoso com a sua namorada, e, quem é hostil com os homens desconhecidos no metrô; Pedro Luan Balle Silva é quem correto na sua igreja, e quem é ladrão no carteado; Pedro Luan Balle Silva é uma pessoa que não existe na vida real, existe apenas, e diferentemente, nos olhos de cada um que o vê. Eu, confuso, então lhe perguntei, em tom debochado: E você, quem é? Ele, prontamente me respondeu, deixando claro todo seu discurso: Ora bolas, eu sou eu; mas, para você, sou um rapaz estranho, que usa chapéu e fala as coisas das quais sua mente doentia não tem coragem  de assumir a autoria.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sonho em Sépia



Estávamos no parque. E as folhas mais precoces, anunciadoras do outono, já amarelavam. Seu reflexo em sépia inundava toda a paisagem. E, a vida parecia passar devagar.
As nuvens eram as únicas aceleradas. Se fecharam em tormenta num piscar de olhos. E, em muito mais tempo que isso, começaram a se precipitar as primeiras gotas prateadas de vida celeste. As gotas caiam em câmera lenta, mas nós não queríamos nos desviar delas. Era divertido vê-las aos poucos procurarem nossos corpos vestidos, e só no ultimo instante esquivarmos-nos delas.
Foi então que a primeira gota tocou o chão. E, quando isso aconteceu, subiu me um arrepio dos pés à nuca. Um arrepio de frio, de emoção, de magia. A partir daí, a chuva começou a seguir seu fluxo, sua velocidade normal. A gravidade voltou a funcionar.
Corremos o quanto pudemos, até algum lugar coberto. Mas, foi só ao avistar aquela assustadora aranha que me dei conta de que o sonho estava se acabando, se desfazendo aos poucos.
Sentei-me então, a lamentar o fim da minha fantasia, tremendo o frio que tanto dentro quanto fora do sonho me atingia. Quando você, meu calor, se postou ao meu lado, e me abraçou, como que me dando a chance de acabar bem. Recostei minha cabeça em seu ombro, e senti a maciez e o cheiro do meu travesseiro nele. No entanto, essa foi a parte mais real do meu sonho. Porque, apesar de seus ossos não serem macios como as plumas em que toda noite apoio meus sonhos, sei que é tão ou mais agradável se recostar neles, e sonhar nossos sonhos juntos. O amor torna tua carne macia, teu cheiro gostoso e tua vida aconchegante.

Texto de presente para Náthalie Louise, do blog http://justfeelsogood.wordpress.com/ , sobre um sonho que ela teve... aquela linda! ♥' hahahaha' 

terça-feira, 1 de março de 2011

Feijão / Coração

Eu me sinto no céu quando, voltando do trabalho, ao dobrar a esquina de casa, me deparo ao mesmo tempo com o sol da tardezinha que, quase sumindo atrás das casas no horizonte, a me ofuscar a visão, e com o o cheiro do feijão do meu amor. Eu amo meu amor, e amo o feijão que ela faz pra mim, porque é pra mim. Na minha opinião, se amor tem cheiro, é de feijão fresco.
Eu amo meu amor, amo o jeito como ela me ama com cuidado, sem deixar cair nenhuma migalha de sentimento. Ela me ama assim, com cuidado pra que o vento não sopre grãos de amor pra longe. Ela me ama com todo o amor que ela tem. E eu, de volta, a amo com todo o amor que eu sei dar.
E, a gente vive assim, se amando como se respira, o tempo todo, e sem perceber. E, quando eu faço algo que a magoa, ela varre pra debaixo do tapete. Meu amor é serviente, cautelosa e prestativa; uma doméstica do amor.
Alguns acham que ela é feia, outros acham que ela é bonita; eu acho que a amo, e pra mim, isso é suficiente.


Resposta a esse texto: http://justfeelsogood.wordpress.com/2011/03/15/coracaofeijao/
Só me surpreende essa coisa cheirosa *--*'