Já somos adultos, e o ar da vida adulta, espesso e denso,
começa a pesar sobre nossos ombros. Não subimos mais escadas, nem levantamos
mais a cabeça com a mesma facilidade. É tudo tão pesado. Viver tem sido tão
pesado. E cansativo também. Viver é ser, e ser cansa.
Não, não há de ser o ar. Vejo crianças sapecas a subirem e
descerem a escadaria da igreja, com sorrisos de quem não tem nada a saber.
Estamos na mesma atmosfera, e o ar não parece lhes pesar em nada. É, não é o
ar.
São nossas costas, nossos ombros. Só poder ser nossas costas
e ombros. Funciona assim: nós crescemos, e eles crescem conosco. Maiores,
entram em contato com mais ar, carregam mais ar de uma vez, e a vida parece nos
pesar mais.
Deve ser por isso que existem tantos experientes em serem
adultos a vagar por aí, com essa mesma expressão de quem já cansou de viver.
São um bando de costas largas.
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