Apartamentos são como casas mal-assombradas. Você ouve o som
dos passos no corredor, chegando até você, passando por você, e se encerrando lá
atrás, mas não vê nada. Ouve batidas, ruídos, sussurros, gemidos, mas nada
acontece no seu cubículo bem localizado com vista pra uma avenida movimentada.
E, nos domingos, o chiado de uma panela de pressão, cheiro
de comida, os gritos de criança e as risadas invadem sua mente, e transformam o
apartamento num livro de fotos animadas, uma caixa de lembranças de momentos
que nunca existiram.
A vida acontece, não lá fora, mas nos outros dentros. E o
que sobra a mim são esses vestígios de acontecimentos nas outras dimensões,
ecos do atrito de outras vidas.