terça-feira, 5 de abril de 2011

A Noiva do Mundo

Houve uma mulher
Que amava muito
E amava tanto
Que amava o mundo

Amava o dia
amava a noite
A melodia
E o som do açoite
Amava a dor
A alegria
O furor
A companhia

Amava tudo, e amava tanto
Que chorava amor
E amava seu pranto

Seu suor também era amor
E suava quando corria
Por toda a cidade em romaria
em seu vestido de noiva
A se casar com o mundo

O homem da padaria
Jurava que a conhecia
Antes da loucura
Antes do alarde
Diz que ela de manhã
Comprava pão francês
Croisant de queijo às três
Pra tomar café da tarde

A costureira diz que ela foi sempre assim
Sempre em sua loja, a comprar
Cortes brancos de cetim
Miçangas e lantejoulas xinfrim
Pra, com seu vestido de noiva sem fim
Com o mundo se casar

O vigia diz que se lembra dela
A mulher doida, da casa amarela
Sempre a cantarolar em sua janela
Uma marcha nupcial singela

Ela canta assim tão baixinho
Assim, tão calmamente
Pra não acordar o mundo que ama
Tão cansado de pegar no batente
Afinal, o mundo trabalha o dia inteiro
Fazendo a vida, a vida da gente
O mundo é um violino que toca
Sem erros, uma música permanente

Merece discansar, mundo trabalhador
É o que diz ela consigo
Canto apenas para ninar o seu sono
A musiqueta que ira tocar
Quanto te encontrar no altar
E, enfim, casares, de todo, comigo

Um dia, o dono da funerária
Amigo de infância da amante donzela
Foi convidado por ela
Para visitar sua casa

Ele foi com muita pressa
Pois não é sempre que uma amiga querida
Tida por muitos como doida varrida
Para sua casa lhe convida

Correu, correu, e chegou à casa
Porém, ter corrido não o a diantou de nada
Pois, quando à casa, adentrou
Viu a amiga que o convidou
Já sem vida, no chão deitada

Porém, teimosos como somos
Custamos sempre a acreditar no pior
Então, duvidou da morte o funerário
Quis porque quis acreditar no contrário
Que sua amiga apenas dormia

O arcênico não mão da morta
Delatou triste verdade ocorrida
Confirmou ao homem parado na porta
Que sua amiga jazia sem vida

Havia um papel preso na porta
A ultimo desejo da doida varrida
Ela queria ser enterrada
Com vestido de noiva que fiou em vida

O enterro foi um grande evento
Toda a gente da cidade reunida
Para dar adeus a louca noiva
Porque pensavam ser esta uma triste partida

Niguém entendeu o que acontecia
E mantiveram seu pranto profundo
Mal sabiam que naquela tarde fria
O sonho da mulher em real se fazia
A noiva se casava com o mundo