terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Once, upon a time. . .


[Minha intenção nesse post não é deixar ninguém chorando, com dor na consciência, ou com uma vontade desesperada de doar dinheiro ao Haiti. É só a expressão de uma ideia que eu tive, qualquer semelhança com um texto humanitário é pura coincidência.]


Oi, meu nome é Shakkar, 16 anos, moro no Zimbábue, e tenho AIDS. Ao longo desses anos, nessa maca, já fui acometido de tantas doenças que nem sei mais qual é a que me castiga agora. Mas, de uma coisa eu sei, é dela que vou morrer.
Cansado de não ter o que fazer, há algum tempo me pus a imaginar coisas. Imaginei casas, cidades, penhascos, embalagens, pássaros, janelas. Mas, desde que percebi que ia morrer, só consigo imaginar o céu. Graças à eminência da minha morte, resolvi-me por deixar essa minha utopia para a posteridade.

No meu céu, nenhuma tecnologia existe. Quando se quer tomar banho, Deus manda uma nuvenzinha pela janela do banheiro, e chove em quem quiser se refrescar.
Não falta água para ninguém, pois, em todas as casas, há um manancial de águas cristalinas.
Toda terra é fértil e frutífera, mas nada nasce sozinho, pra que meu povo tenha o prazer de plantar, regar com muito amor e água, e ver crescer em abundância frutas nunca antes vistas.
Os pais são responsáveis, e não mais deixam seus filhos à orfandade, pra que se criem mutuamente, como acontece aqui.
Sabonete e travesseiro não são mais algo raro, e nem o chocolate custa um milhão de libras, porque é tudo gratuito. Assim, ninguém tem razão nenhuma que force a fazer algo, só se faz pelo prazer de fazer, e de ver pronto.
A vida é finalmente vivida em abundância, não mais choro, nem dor; só a calmaria de não ter mais preocupação nenhuma de quando começará uma nova guerra.
Fico ansioso só de pensar. O que me lembra que minha mãe está me chamando. Disse que já chegou minha nuvem, que a água ta morninha-morninha, porque lá em cima faz um frio celeste.