sábado, 27 de dezembro de 2008

Ironia Cruel

Hoje, fui ao cinema, assistir Crepúsculo; um filme que você já deve ter assistido, lido o livro, ou ao menos, ouvido falar.
Mas, como eu já foi mostrado no último post, esse é um blog de críticas sociais, e não cinematográficas.
Nem precisa se perguntar porque eu estou falando de filmes, porque, não é de filmes que vou falar. O fato é que, no caminho de volta, percebi que havia um homem negro, pobre, que colhia restos de comida em lixos residenciais, ao invés de roubar pessoas trabalhadoras (ou não), como muitos fazem. Eu, com meu coração tocado, lhe dei R$2,35.
Não precisa também se perguntar o porquê de eu estar sendo tão exato, porque já vou chegar nessa parte.
É que, ao ver a humildade daquele homem, em receber aquele dinheiro, e a forma como me agradeceu (com um "Deus lhe abençoe"), me coloquei a pensar.
Eu, voltando de um cinema, onde paguei R$8,00 (meia entrada); com minhas roupas, que juntas totalizavam um valor de R$472,89; e dei R$2,35, um dinheiro que não pagaria sequer a minha condução de ida ao cinema, a uma pessoa que passava fome !
O pior era que, antes de me dar conta disso, meu sentimento era de desencargo emocional. Era como se eu tivesse feito a boa ação do ano !
Minha crítica de hoje é a isso. A esse sentimento universal, de que as sobras que caem da nossa mesa salvam milhares de pessoas. Pode até salvar, se a mesa for grande e farta, mas, ainda assim, não é, nem nunca vai ser o suficiente.
As pessoas cortam despesas para poupar pra faculdade, cortam despesas pra viajar, cortam despesas para comprar roupas; mas, não cortam despesas para ajudar o próximo.
Para si mesmo, dívidas são necessárias, para o próximo, o que sobra é suficiente. E, quando não sobra, fazer o que, não é ?
A caridade do ser humano acaba onde começam suas necessidades, ou, muito mais comumente, suas futilidades.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Primeira Postagem

Esse blog tem como objetivo expor minhas ironias e frustrações a respeito desse mundo em que vivemos. Também quero mostrar aqui alguns poemas meus e de meus autores favoritos
Como primeira postagem, quero colocar um poema de meu autor predileto, Fernando Anitelli, que expressa toda a idéia que pretendo desenvolver com esse blog.

A Metamorfose ou Os Insetos Interiores ou O Processo

O Teatro Mágico

Composição: Fernando Anitelli

Notas de um observador:

Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.

A futilidade encarrega-se de maestra-los.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono, o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.

Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, in(f)vertebrados.
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se:
"A cria que se crie, a dona que se dane !"

Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.
Assim são os insetos interiores.