segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A Casa que Envelhece


Eu vago pela casa como quem peregrina em meio à neblina. Passo em frente à janela aberta, por onde agora entra luz. Não que antes os dias fossem nublados, ou as cortinas fechadas; nada disso. É que antes a casa sorria, a casa ria, a casa gargalhava. E seus olhos, as janelas, brilhavam tanto, que não se percebia a luz do sol entrando. Era como se mais luz saísse do que entrasse, porque felicidade tem luz própria.
Por onde quer que você andasse, sempre na ponta dos pés, e com esse nariz empinado, flores brotavam do assoalho, e no piso de cerâmica, via-se nascer um musgo. A casa de esverdeava, e se aquecia, se refrescava e renascia a cada manhã.
Mas, você não voltou mais. E, as faxinas e arrumações freqüentes podem até manter a casa bonita, mas nunca tão aconchegante. Porque, o aconchego é a propensão à vida. Uma casa aconchegante é como um solo fértil pra se plantar o viver, a felicidade.
Não adianta fechar as portas, as janelas e as cortinas também. Porque, uma casa não é como uma caixa de isopor, que basta estar bem fechada para conservar o calor. Nada contem o calor da vida.
E eu, agora, sentado no sofá, tirando as minhas meias, revivo essas lembranças brandas. Lembranças amarelas. Lembranças à luz de uma vela. Gargalhadas, sussurros e suspiros que vacilam como vacila a chama no pavio. Como num porre, como num sonho. E doídas. Mas, eu sou obrigado a lembrar. Porque, para onde quer que eu olhe, vejo essas paredes opacas, que se confundem com a opacidade do meu pé ressecado e com fiapos de meia grudados.
Sem você a casa se emudece, se entristece e se grisalha. Se grisalha, e não se empalidece, não desbota e nem descasca. Sua pintura se grisalha, porque a perda de cor não é por ação do tempo, como no desbotar. Mas por ação de uma ausência cada vez maior de vida, como no viver.

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